As mudanças climáticas e a democratização cada vez maior da tecnologia têm fortalecido as discussões sobre descarbonização, descentralização e digitalização de todo o sistema de produção e distribuição de energia. Com isso, está crescendo a geração própria de eletricidade em empresas, edifícios e residências, tornando possível a comercialização da energia excedente.
Para acompanhar essa evolução, a necessidade de melhorar a confiabilidade e a eficiência das redes de distribuição é cada vez mais evidente, o conceito chamado smart grid é o caminho para a diminuição de tarifas, problemas técnicos, interrupções no fornecimento e maior segurança dos equipamentos envolvidos.
No início do ano passado, diversas movimentações foram feitas para acelerar o avanço do mercado livre de energia. Entre elas está o Preço de Liquidação das Diferenças em base horária (PLD horário), que permite existirem até 24 valores de PLD diferentes dentro de um mesmo dia – já que os montantes são publicados diariamente e não mais semanalmente.
Ações como essa fomentam a geração distribuída. Vinda de recursos renováveis, como a energia solar, a eletricidade gerada individualmente é mais sustentável. Além disso, ajuda a não sobrecarregar o sistema hidrelétrico, a maior fonte de eletricidade no Brasil atualmente.
No entanto, ainda falta um longo caminho para que as concessionárias de energia consigam acompanhar esse avanço. Presas ao sistema tradicional de medição e de distribuição elétrica, elas ainda não conseguem gerir de maneira eficiente seus ativos. E há, ainda, questões econômicas, sociais e geográficas em jogo.
A tecnologia vem justamente para sanar esses obstáculos. Disponíveis no mercado mundial há mais de 20 anos – em países desenvolvidos, como a Austrália, a digitalização é amplamente integrada ao sistema elétrico há muitos anos –, as soluções digitais de smart grid ainda têm um longo caminho no Brasil.
Isso porque, para se modernizar, o setor precisaria arcar com grandes investimentos que, por sua vez, são difíceis de se mostrar certeiros em retorno. Eles necessitam de uma segurança regulatória e de grande quantidade de trabalho, tendo em vista que o Brasil possui mais de 80 milhões de medidores instalados. Mas a falta de uma rede inteligente de distribuição pode fazer que o mercado livre de energia não cresça? A resposta é: não necessariamente.
O avanço da smart grid poderia, sim, incentivar ainda mais a compra e venda de energia. Mas, mesmo que em ritmos diferentes, tanto as redes inteligentes quanto o livre mercado estão evoluindo. Ambos, eventualmente, se complementarão cada vez mais. A ideia de gerar energia cada vez mais sustentável em sistemas que entregam qualidade, segurança e menores custos não está mais tão longe da realidade. O mercado está avançando e prestando cada vez mais atenção a esse tipo de iniciativa.
* João Carlos de Souza Marques é head de Digital Grid Sales da Schneider Electric para América do Sul