A preocupação em incorporar as melhores alternativas possíveis para minimizar custos ambientais e sociais está cada vez maior entre as empresas no Brasil, principalmente em relação a qual tipo de energia devem adquirir e consumir. Nesse contexto, tornou-se necessário certificar a origem da energia que é consumida, ainda mais se for de uma fonte renovável ou tiver menor impacto ambiental. Para isso, foram criadas as certificações que legitimam a origem energética e garantem que ela seja renovável, o que contribui para diferenciar os produtos e serviços das empresas que estão preocupadas em descarbonizar suas operações e cadeias de valor para serem mais sustentáveis.
O biogás, por exemplo, é um tipo de biocombustível produzido a partir da decomposição de materiais orgânicos de origem vegetal ou animal, que formam uma mistura de gases, cuja maior parte é composta de metano. De acordo com o Instituto Totum, Emissor Local do I-REC Standard e gestor do Programa Brasileiro de Certificação de Energia Renovável, cada metro cúbico de biogás produzido e distribuído por qualquer meio físico tende a substituir ou deslocar a mesma unidade de gás natural proveniente de fontes fósseis ou outros combustíveis fósseis.
A biomassa é a principal fonte para o biogás, sendo encontrada de diversas formas, tais como: restos de alimentos, resíduos de madeira, palha do arroz, bagaço da cana de açúcar, esterco de animais e entre outras formas. É uma fonte renovável de energia porque utiliza materiais orgânicos que são constantemente gerados pela população e a natureza. Ele é considerado mais sustentável que o gás natural por não depender da extração de combustíveis fósseis e por ajudar a promover uma economia mais circular, evitando a contaminação que seria gerada pela decomposição de resíduos orgânicos.
Para o consumidor de biogás ter certeza de sua origem, o Instituto Totum criou um certificado específico para o biocombustível, denominado de GAS-REC. A certificação possibilita que o comprador consiga verificar se o biogás adquirido é proveniente de usinas de produção previamente cadastradas dentro das regras próprias de certificação. O sistema de certificação assegura que não haja dupla-contagem ou duplo beneficiário do atributo ambiental do biogás ou biometano.
No Brasil, em 2021, a produção do gás natural aumentou 5% sobre 2020, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Considerando o uso residencial, nos últimos cinco anos, o País teve aumento de 32,7% nos pontos de consumo, de acordo com a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás).
Com esse aumento no consumo de gás natural, segundo o Instituto Totum, a projeção é de que, ainda neste ano, sejam emitidos 80 mil certificados de GAS-REC, o que demonstra uma preocupação das empresas em realizar compras de biogás de origem renovável. Para 2023, a expectativa também é de crescimento, e que 200 mil certificados sejam emitidos.
De acordo com a Agência Internacional de Energia, o potencial de produção de biogás ainda não foi suficientemente explorado. Sem competir com a produção de alimentos, ele tem o potencial de cobrir mais de 20% da demanda mundial atual por gás. Porém, um dos papéis mais importantes da fonte energética será na transição para uma economia mundial com zero emissões líquidas até 2050, especialmente em setores mais difíceis de descarbonizar.
Apesar da matriz energética global estar ficando cada vez mais elétrica (a eletricidade é de 3 a 5 vezes mais eficiente que outras formas de energia), ela não será capaz de garantir a transição energética necessária para um mundo descarbonizado sozinha. Por isso, o biogás será uma peça importante desse quebra-cabeças, e é necessário que as empresas o considerem dentro de suas próprias estratégias de descarbonização.