Ao redor do mundo, países e empresas estão em uma corrida para descarbonizar e atender a metas climáticas urgentes. Embora a indústria elétrica lidere diversas iniciativas sustentáveis e seja um exemplo de boas práticas, ainda é a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa devido à sua dependência de combustíveis fósseis, como carvão, petróleo e gás natural, que geram grandes quantidades de CO2 quando queimados. Ao mesmo tempo, a alta demanda por eletricidade resulta em uma produção em larga escala, frequentemente impulsionada por usinas ineficientes e tecnologias antigas, que não só produzem energia de forma menos eficiente, mas também liberam mais poluentes. Por isso, mesmo mudanças pequenas podem causar um grande impacto na pegada de carbono global.
De acordo com a proposta de nova meta climática do Observatório do Clima, o Brasil precisa reduzir suas emissões em 92% até 2035 para se posicionar como líder da agenda climática global. Essa recomendação destaca que tanto o agronegócio quanto a indústria têm papéis cruciais no cumprimento das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que estabelecem as metas de cada país alinhadas com o Acordo de Paris. Esses documentos delineiam os planos dos países para diminuir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e ajudar a manter o aquecimento global em, idealmente, 1,5°C.
No entanto, reduzir a pegada de carbono da indústria é um enorme desafio. Apesar dos esforços de descarbonização, as emissões de CO2 relacionadas à energia atingiram um nível recorde, com a geração de energia apresentando um aumento significativo em 2023. Isso evidencia que os esforços atuais não são suficientes para conter as mudanças do clima. Diante desse cenário, a oportunidade-chave da indústria elétrica para cumprir suas metas de sustentabilidade está em identificar e agir sobre todos os pontos de melhoria, incluindo a maximização da integração de DER (Recursos Energéticos Distribuídos), a eliminação do uso de SF6 (hexafluoreto de enxofre) e o aprimoramento da eficiência do setor energético.
Para lidar com o problema das emissões de carbono, os operadores de redes devem se concentrar em três áreas principais. Primeiramente, a integração de energia renovável é primordial para criar uma rede mais sustentável. As concessionárias de energia precisam aumentar significativamente o uso de recursos de energia distribuídos. No entanto, adicionar mais fontes renováveis não é suficiente; torna-se, então, crucial que esses DER sejam bem integrados à infraestrutura elétrica existente, o que representa uma dificuldade dado o caráter variável das energias renováveis.
Em segundo lugar, a eliminação do SF6 dos equipamentos de média tensão deve ser prioridade devido ao seu alto potencial de aquecimento global. Essa transformação é especialmente relevante, pois a demanda por chaveadores de média tensão está em ascensão, impulsionada pelas necessidades globais de infraestrutura e eletrificação. Ao substituir um chaveador tradicional por uma alternativa livre de SF6, os operadores podem manter os benefícios operacionais sem comprometer o meio ambiente.
Por fim, é fundamental aperfeiçoar a eficiência das redes elétricas, já que ocorre um desperdício considerável nos sistemas atuais. Aumentar a eficiência e diminuir perdas técnicas pode resultar em uma economia global de aproximadamente 500 toneladas métricas de dióxido de carbono anualmente. Uma rede mais eficiente minimiza o desperdício de recursos e reduz o uso de combustíveis fósseis e, consequentemente, a poluição do ar.
Um mundo mais elétrico e digital, conhecido como Electricidade 4.0, configura-se imprescindível para enfrentar as crises climáticas e energéticas, promovendo um futuro sustentável. Nesse contexto, é urgente que os operadores de rede adotem tecnologias digitais conectadas para descarbonizar as redes elétricas. Ferramentas digitais são indispensáveis para maximizar a integração de recursos de energia distribuídos, ajustando o equilíbrio entre oferta e demanda e permitindo que os operadores modifiquem a produção e o consumo de energia de forma eficiente.
A indústria elétrica deve eliminar o uso de SF6 em equipamentos de média tensão e dar preferência a soluções como chaveadores livres de SF6 que utilizam tecnologia de ar puro e vácuo. Essas inovações atendem às novas regulamentações e oferecem desempenho comparável aos modelos tradicionais. Ferramentas digitais também aumentam a eficiência da rede, diminuindo perdas de energia, melhorando a gestão e resultando em um controle mais eficaz das redes, assim como proporcionam queda no tempo de interrupção e detecção antecipada de problemas por meio de análises de carga e geração.
A indústria elétrica tem um potencial significativo para liderar iniciativas positivas no combate ao aquecimento global. A grande questão reside em prestar atenção aos detalhes que podem gerar um impacto substancial tanto no meio ambiente quanto na saúde das pessoas. A incorporação de práticas sustentáveis e a inovação tecnológica são essenciais para promover um futuro alinhado com os objetivos sustentáveis idealizados pelo Observatório do Clima.
*Leandro Bertoni é vice-presidente da divisão de Power Systems para a América do Sul da Schneider Electric.