*Por Patricia Lombardi
Os dados não mentem — e o que eles nos contam é que as cidades consomem 78% da energia primária do mundo e geram mais de 60% das emissões de carbono, com os maiores contribuidores sendo edifícios, produção de energia e transporte. Foi sugerido que as mudanças em comportamentos, individuais e empresariais, durante a pandemia de COVID-19, como o aumento do trabalho remoto e menos viagens, poderiam impulsionar os esforços para combater as mudanças climáticas. Isso seria uma boa notícia — mas recentes estudos indicam que o impacto líquido da COVID-19 pandemia no aquecimento global foi insignificante, a menos que ações muito mais agressivas, de longo alcance e sustentáveis sejam tomadas. Esse cenário significa que precisamos não só examinar minuciosamente o nosso dia a dia e práticas empresariais, mas também repensar e transformar os espaços físicos onde nós vivemos e trabalhamos — com a experiência das pessoas, saúde pública e objetivos de sustentabilidade no seu centro.
De acordo com a pesquisa Global Alliance for Buildings and Constructions, 28% das emissões globais de CO2 são provenientes de operações de construção. Adicionando materiais e construção de edifícios, sobe para 38%, tornando os edifícios a maior fonte de emissão de CO2.
Outra previsão alarmante é que 2050, a população mundial atingirá quase 10 bilhões, com a grande maioria desse crescimento ocorrendo em cidades, segundo dados da ONU. Para atender essa demanda, é esperado que o mercado imobiliário dobre nas próximas décadas, aponta outro relatório da ONU. Muito desse crescimento irá acontecer em lugares onde os códigos de energia para edifícios são limitados ou inexistentes. No entanto, sabemos que esses prédios precisam se modernizar. Nós precisamos quebrar o ciclo vicioso onde as emissões urbanas aumentam a imprevisibilidade do tempo e, à medida que frios intensos e ondas de calor persistem, mais energia é usada para aparelhos como aquecedor e ar-condicionado.
Unindo forças
A tarefa à frente é assustadora. O Conselho Mundial da Construção Verde estima que todo prédio no planeta deve ser “carbono zero” até 2050 para manter o aquecimento global menor do que 1,5°C — no entanto, atualmente, menos de 1% do mercado imobiliário global atende essa norma. Transformar como projetamos, construímos e operamos edifícios não pode ser deixado para apenas uma indústria. Pelo contrário, nós precisamos agir agora para unir forças entre os setores público e privado.
Hoje, podemos modernizar, de maneira sustentável, edifícios existentes com a ajuda de soluções digitais interoperáveis e baseadas em padrões. Não precisamos necessariamente planejar novas estruturas. Construções existentes podem ser transformadas em edifícios resilientes e auto suficientes do futuro, capazes de gerar e gerenciar suas próprias necessidades de energia, apoiando a transição para frotas de veículos elétricos e desbloqueando melhores experiências para as pessoas que os utilizam.
Isso não é ficção científica. A convergência de eletrificação e digitalização em construções, embora apenas uma peça desse complexo quebra-cabeça, representa um ponto de partida importante — e tem o potencial para ganhos rápidos e significativos. A separação das camadas externas e internas de construções permite que a parte interna seja habilitada digitalmente por meio de dados e análises em tempo real, fazendo com que a construção inteira se torne inteligente, com softwares e melhorias no design do layout disponíveis sob demanda.
Se ferramentas digitais representam o sistema nervoso de um prédio, eletricidade é a corrente sanguínea, com sinergias criadas por toda parte. Sistemas de aquecimento que usam bombas de calor elétrico, por exemplo, são em média três ou quatro vezes mais eficientes do que caldeiras tradicionais que usam combustível fóssil. Adicione sistemas inteligentes de gerenciamento de energia a edifícios e esses benefícios são ampliados, reduzindo contas de energia elétrica por 20-30%.
Em adição, as microrredes permitem a integração de renováveis em qualquer escala e em proximidade com seu ponto de uso, oferecendo mais vantagens em reduzir a perda de transmissão, ajudando proprietários e inquilinos, ao redor do mundo, a alcançar maior resiliência e acesso à energia e a traçar um caminho em direção à sustentabilidade.
Construindo conexões
Até o momento, os esforços para reduzir as emissões de edificações têm se focado principalmente em edifícios individuais, devido à falta de uma estratégia integrada em toda a rede. No entanto, para impulsionar um progresso mais rápido e maior eficiência, construções devem interagir umas com as outras, com a rede elétrica e outros setores. Isto pode transformar bairros e cidades.
Em todas as indústrias, setores e regiões, é hora de assumir a responsabilidade pelos lugares em que vivemos e trabalhamos. Isso significa exigir que novas construções já nasçam para atender aos padrões de emissão líquida zero, fazer investimentos de longo prazo para modernizar nossos edifícios e infraestrutura existentes, além de adotar uma abordagem mais holística para planejar e gerenciar nossas comunidades. Somente assim, nossas cidades — e nosso planeta — podem retomar o controle e, finalmente, vencer a luta contra as mudanças climáticas.
*Por Patricia Lombardi Building Segment Leader South para América do Sul da Schneider Electric